terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Opinião: Afinal, de quem são os filhos?

 
Carlos Aguiar Gomes
Presidente da Associação Famílias

Uma longa tradição remete para os pais a propriedade dos filhos. Aquele seria assim como uma espécie de donos da sua prole. O Estado moderno, sobretudo após a Revolução Francesa e a generalização do pensamento comunista, também exige uma quota-parte daquela “propriedade”. Porém, e salvo melhor opinião, as crianças, desde a concepção (é bom referi-lo e sublinhá-lo!) não são prioridade de ninguém. Estão, simplesmente à guarda dos seus pais, em prioridade. A função destes é de ajudar os filhos a crescer, educando-os para que se tornem, e serem capazes de o ser, adultos com um projecto de vida coerente, integral, em busca permanente do Bem, na responsabilidade e na liberdade. Os pais têm, por inerência de Direito Natural, esta responsabilidade e não por qualquer delegação tolerada do poder politico. Este deve, pelo contrário, estar ao serviço dos pais já que as formações do Estado são posteriores às dos pais! Cada filho é um dom colocado por Deus (ou pela Natureza para os ateus) nas mãos e no coração de cada pai e de cada Mãe, com igual responsabilidade, não como um bem, uma “coisa”, que se dá para uso de alguém. Por isso, os filhos não se podem vender, deixar em herança a alguém ou trocar. São “património” que se deve proteger, guardar, fazer crescer para que possam ir construindo o futuro com o auxilio dos pais (e do Estado), e um dia, com responsabilidade e liberdade, tornando-se autónomos e capazes de eles próprios continuarem a tecer os elos das famílias, construindo eles próprios a sua família.
Desde a concepção, e é interessante pensar nisso, que a Mãe se limita a abrigar, proteger e alimentar o seu filho, tarefas que vai continuar a fazer (toda a vida!) de modos sucessivamente diferente, mas encadeados, com a participação absolutamente necessária do Pai. Se se é pai e Mãe para sempre, também se é Filho para sempre. Apesar das contrariedades e tropeções da vida, há vínculos que nunca se quebram ou desfazem, nomeadamente os de natureza genética! O ideal será que os afectos, efectivamente, funcionem e reforcem os laços inter-geracionais, sem destruir a liberdade de cada um ser responsável pelo modo como trilha o seu caminho. Por isso, e por causa desta liberdade, os Pais não se podem demitir da educação dos filhos mas nunca os considerando “propriedade” sua. Por maioria de razão, o Estado não se pode arrojar competências que não tem ( salvem-se as excepções, certamente). E uma das competências que o Estado não tem nem deveríamos deixar que tivesse, é o de ser o educador dos nossos filhos. Deveríamos, isso sim, exigir que aquele cumprisse a sua missão no respeito absoluto pelos Pais.
Enfim, de facto os Pais não são donos dos filhos. Nem podem comportar-se como tal. São seus guias e responsáveis primeiros, principais e insubstituíveis da sua educação. Já não é pouco, pois não?